O separatismo foi um fenômeno político ocorrido no Sul de Minas Gerais, dadas as condições históricas, econômicas e sociais da Região. Durante o século XIX, diversos projetos de criação de uma província Sul Mineira foram apresentados ao Senado Imperial, a destacar os de 1843, 1854, 1862, 1868, e 1884. Os representantes do Separatismo Sul Mineiro no Parlamento eram provenientes da cidade de Campanha, importante centro político e cultural da região.
Por seu gigantismo territorial e por sua organização política baseada nas desigualdades regionais de poder, Minas Gerais esteve sujeita a várias ameaças de separatismo ao longo de sua história. Dentre as regiões mineiras, o Sul manifestou tendências separatistas bastante acentuadas ao longo do século XIX.
Nesse contexto, a cidade da Campanha afirmou-se como importante localidade propagadora de idéias separatistas no Sul de Minas Gerais. Nela surgiram vários jornais e projetos parlamentares que tinham como aspiração comum o desmembramento do território sul-mineiro e a criação de uma nova unidade administrativa naquela região.
O surgimento e o desenvolvimento das idéias separatista na região decorrem de dois fatores básicos: o político e o econômico. Durante a primeira metade do século XIX, o Sul de Minas foi a principal região cafeeira e agroexportadora do Estado. Sua prosperidade econômica, todavia, não coincidia com sua pequena expressividade política nos níveis provincial e nacional, dado o número reduzido de deputados sul-mineiros na Assembléia Provincial e na Câmara dos Deputados na Corte. As idéias separatistas surgiram e se desenvolveram no Sul de Minas Gerais a partir de um enorme desnível entre os poderes econômico e político da região, dentro do contexto estadual.Outro fator que não pode ser negligenciado na compreensão do separatismo sul-mineiro é o da condição geográfica. Por ser uma região limítrofe entre Minas Gerais e São Paulo, foi área de intenso trânsito comercial e alvo de várias disputas interregionais durante o século XVIII. O antigo interesse paulista pela região não se arrefeceu com o tempo, pelo contrário, ganhou força com a situação política desencadeada pelo movimento liberal de 1842. Isso porque, o movimento liberal havia incutido em alguns políticos conservadores o temor de que Minas Gerais viesse a se constituir em uma grande província central e que, com o seu enorme contingente populacional e a sua capacidade em mobilizar recursos nacionais viessem desestabilizar a ordem em outras regiões nacionais. Com a ascensão do Partido Conservador ao poder, a partir de meados da década de 1840, houve estímulo ao surgimento de propostas de desmembramento do extenso território de Minas Gerais.
Antes, porém, é necessário analisar a imprensa separatista sul-mineira, cujo representante de maior vulto foi o jornal "O MONITOR SUL MINEIRO". Dentre as formas de comunicação e o exercício do poder político, a imprensa é talvez aquela que exerça maior influência na sociedade, pois, nas palavras do escritor francês Victor Hugo, "o diâmetro da imprensa é o diâmetro da própria civilização".
Cumpre destacar que a imprensa Campanhense foi o principal agente divulgador da causa do separatismo. Em Campanha, foram impressos os principais jornais separatistas da região como "O OPINIÃO CAMPANHENSE", "NOVA PROVÍNCIA", e o "SUL DE MINAS", todos de propriedade de Bernardo Jacindo da Veiga e de Lourenço Xavier da Veiga. Esses dois irmãos, egressos do Rio de Janeiro, se estabeleceram na cidade de Campanha em 1818, como livreiros e jornalistas.
Em trabalho acerca de alguns grupos familiares que compuseram a elite regional sul-mineira, Marcos Ferreira de Andrade afirma que os homens da família Veiga foram figuras públicas e políticas que souberam se servir muito bem da palavra impressa para enaltecer as qualidades do Sul de Minas Gerais de maneira a justificar a independência administrativa desta região. De fato, as idéias separatistas aparecem com freqüência nas páginas dos jornais e almanaques publicados pelos irmãos Veiga e seus descendentes na cidade da Campanha ao longo do século XIX.
denominação de "MINAS DO SUL". A esse projeto seguiram-se outros semelhantes, apresentados pelos deputados Américo Lobo Leite Pereira em 1843, e pelo Dr. Olimpio Oscar de Vilhena Valladão. Àquela época, a cidade da Campanha era importante localidade propagadora das idéias separatistas no Sul de Minas, além de protagonistas nos debates parlamentares acerca da separação. Eram de Campanha os três deputados anteriormente citados, cujos projetos tiveram os seus respectivos textos integrados aos anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão.
A cidade de Campanha foi escolhida como sede da nova Unidade Administrativa de "MINAS DO SUL". Como se isso não bastasse, era Campanha "um dos mais inexpugnáveis baluartes do Partido Conservador", o que lhe garantia posição privilegiada no contexto político do Segundo Reinado.
A 1º de janeiro de 1872, Bernardo Saturnino da Veiga, um dos filhos de Lourenço Xavier da Veiga, fundou o Monitor Sul Mineiro, jornal que conquistaria notoriedade na imprensa mineira por ser um dos mais importantes arautos do separatismo no Sul de Minas Gerais. Dele, Alfredo de Vilhena Valladão nos oferece uma descrição de contemporâneo: "Nas instrutivas, patrióticas e noticiosas colunas deste grande órgão, o Monitor Sul Mineiro, se defendiam as melhores causas e se derramavam úteis conhecimentos. E ainda questões políticas, que tanto apaixonadamente eram ali tratadas sempre com superioridade, dominando sempre o espírito de moderação de idéias e de linguagem, como programa estabelecido. [...] não seria preciso significar, os interesses locais da Athenas Sul Mineira, sobre os variados aspectos, culturais, morais e materiais, eram especial, brilhante e carinhosamente defendidos sempre em suas colunas, bem como o interesse de toda aquela região em geral".
Além das características acima elencadas, "há que se destacar a epígrafe daquele jornal: “LEMOS NO PRESENTE, SOLETRAMOS NO FUTURO". Nesta sentença está contido o ideal máximo do Monitor Sul Mineiro, bem como da imprensa oitocentista em geral, qual seja o registro de idéias que, por sua importância política e histórica, deveriam ser lembradas – e soletradas – no futuro, quando já não houvesse mais suporte de papel no qual lê-las - as idéias separatistas exemplificavam bem tal máxima"
O programa político do Monitor Sul Mineiro pautava-se pela promoção do progresso e da civilização – idéias tipicamente oitocentistas– no Sul de Minas Gerais". Na opinião dos seus redatores, a criação da nova província de Minas do Sul apresentava-se como um indiscutível pressuposto para o progresso da região, de vez que a emanciparia da administração centralizadora de Ouro Preto através da transferência do poder regional para a cidade da Campanha
É importante, porém, ressalvar, que a orientação política do Monitor Sul Mineiro era conservadora e, por isso mesmo, contrária às propostas radicais de separação. Destarte, Minas do Sul deveria ser criada de forma gradual e de acordo com os princípios legais, em respeito ao "status quo imperial".
"A proposta legalista de separação apresentada pelo Monitor Sul Mineiro foi sendo relegada à proporção do desgaste do partido conservador bem como da ordem política por ele sustentada. Neste sentido, o ocaso do Império a difusão das idéias republicanas e federalistas deram ensejo ao surgimento de novas concepções de separação do Sul de Minas Gerais".
Com o advento da República no Brasil, na última década do século XIX, as rivalidades entre as regiões mineiras se aguçaram, de tal forma, que o governo de Minas Gerais se viu obrigado a adotar uma política de conciliação entre as diversas facções republicanas regionais. Entretanto, tal medida foi insuficiente para acalmar os ânimos exaltados dos republicanos sul-mineiros nem para dissipar as idéias de criação do novo estado de Minas do Sul.
Assim, a 31 de janeiro de 1892, eclodiu na cidade da Campanha o movimento separatista sul-mineiro. Sob a liderança de políticos locais, o movimento contou com o apoio de mais de uns poucos municípios circunvizinhos à cidade da Campanha, como São Gonçalo do Sapucaí, Três Corações do Rio Verde e Cambuí (VALLADÃO, 1942, p. 360). Mesmo assim, a Junta Governativa instalada na cidade da Campanha, cuja figura de proa era o Dr. Martiniano da Silva Reis Brandão, engenheiro e membro do Partido Republicano Mineiro (PRM), deliberou oficialmente no Sul de Minas Gerais até meados de março de 1892, quando forças estaduais e federais puseram fim ao movimento.Durante dois breves meses, o sonho da separação parecia haver se tornado realidade para seus idealizadores, como atestam as palavras do jornal Minas do Sul: "Minas do Sul existe enfim! Concretizou-se a perene aspiração de meio século, - nossa e de nossos maiores"."Não há, no mais recôndito recanto do território d’aquém rio Grande, um coração que não pulse uníssono conosco, no contentamento pela realização do nosso sonho com, no entusiasmo pela previsão do esplêndido futuro que nos aguarda". (MINAS DO SUL, 19/02/1892, p.01)
Tarcisio Brandão de VilhenaPerola Maria Godefeder
Arquivo Público Mineiro
Efemérides Mineiras
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