sábado, 7 de julho de 2012

ATHENAS DO SUL DE MINAS

     “Refulgiu pelo ouro da terra e pela cultura e pelo o civismo de seus filhos"

                                                                                                           Alfredo de Vilhena Valladão


A analise das praticas culturais da elite Campanhense, ja sem os recursos do ouro, evidencia e justifica a gênese da metáfora: "ATENAS DO SUL DE MINAS, ao demonstrar Campanha como a cidade privelegiada por políticas públicas de educação, em relação as demais cidades de Minas Gerais.
Com efeito, um olhar atento e imparcial sobre a cidade da Campanha desde os tempos do Arraial de São Cipriano aos dias de hoje, nos coloca diante de uma sociedade preocupada com o sistema educacional da cidade, refletido no anseio de seus filhos pelo o aprimoramento do ensino.
A extinção da escravatura no Brasil, e a sua repercução na cidade da Campanha, como de resto, em todo país, causou um forte impacto na vida social e econômica da Nação, considerando que a economia do País se sustentava na agricultura.
Para quase todos os lavradores da Vila da Campanha foi um duro golpe. Soma-se a isto a emancipação de vilas que pertenciam à jurisdição da cidade da Campanha, que poderia levá-la a uma grave crise financeira, se não fosse a presença de cidadãos campanhenses na política nacional e no fortalecimento de instâncias ligadas à religião Católica. Acidade pode se manter muito ativa durante todo o século XIX, principalmente através da produção agrícola e pecuária, além do comércio com o Rio de Janeiro e São Paulo. O seu território era vastíssimo e as suas águas minerais eram procuradas por diversas personalidades para os diversos tipos de doenças.Alem do mais e principalmente, Campanha tinha uma excelente base educacional que lhe permitiu filhos ilustres tanto no Parlamento como nos executivos Estadual e Federal.
No ano de 1831, é possível saber da instalação de uma Escola de Ensino Mútuo para Primeiras Letras em Campanha, com mais de 100 alunos.
O método mútuo ou Lancasteriano (método Inglês posto em pratica na India), difundiu-se no Brasil e temos noticia de que foi de imediato posto em prática na cidade de Campanha que ja previa a instrução pública como dever do Estado, com a finalidade de contemplar um número maior de alunos. Além disso, método combatia os castigos físicos, comuns na época.
Um dos alunos dessa época na escola de primeira letras como era chamada, foi o futuro senador Evaristo da Veiga. Os alunos, cujos pais tinham recursos, compravam os livros e os meninos pobres recebiam o material da Câmara ou da Província.
No ano de 1840 o ensino mútuo ja estava quase abandonado nas escolas mineiras, seria substuido pelo método Silmutâneo. A Assembleia Mineira subvencionou a ida de dois professores a França para aprender esse novo método.
Nesse mesmo ano de 1.840 a vinda de um Delegado de Ensino à Vila da Campanha, enviado pelo o Presidente do Estado, Bernardo Jacinto da Veiga, esse Delegado em seu relatório informava que o ensino de Latim, Fracês e Filosofia, na cidade da Campanha era muito bem ministrado, sobrepunha aos demais municipios Mineiros e o adiantamento dos alunos era notório e significativo. Nesse mesmo relatório o Delegado manifesta a necessidade de melhores salários para os professores. Em 1843 no ensino público secundário em Campanha, a cadeira de latim era ministrada pelo o padre mestre João Damasceno. Conforme informes da época o padre João era tido como um grande latinista, os alunos o tinham como uma espécie de oráculoO ensino do latim, segundo depoimento de vários Campanhenses foi fundamental para muitos daqueles que optaram pelo o estudos das ciências jurídicas.
Um fato que deve ser registrato pelo o seu aspecto inédito e avançado, considerando época, em pleno século XIX, é o jornal, O Sexo Feminino - jornalismo que instrui.
O Sexo Feminino é o nome do periódico de propriedade da jornalista da Campanhense Francisca Senhorinha da Motta Diniz, que também editava e redigia o jornal. O primeiro ano de publicação do jornal (1873-1874) foi feito aqui na nossa cidade da Campanha.
Em 1875, Senhorinha Diniz mudou-se para o Rio de Janeiro com uma proposta de trabalho para lecionar na Corte. A escritora continuou com as edições de
O Sexo Feminino, mesmo com a mudança para o Rio.Tratava-se de um jornal direcionado ao público feminino, fato observado logo na capa do veículo, onde lia-se: "Especialmente dedicado aos interesses da mulher".
A jornalista escrevia para um público mais intelectualizado e instruido, fato que demonstra o nivel cultural da sociedade Campanhense.
Em 15 de novembro de 1874 o editorial do jornal assim expressava:"É tempo de darmos o grito de nossa independência, de nossa emancipação do jugo ferrenho em que até agora vivido, proclamando alto e bem alto a nossa capacidade para certos empregos públicos, e muito principalmente para o magistério onde daremos a mocidade de ambos os sexos educação e instrução".
No ano de 1.893, depois de ter cursado a Escola Normal de Campanha e frequentado o Seminário de Mariana e o famoso Colégio do Caraça, o grande professor Jonas Olinto, "pedagogo de cultura enciclopédica", jornalista e poeta, fundou e dirigiu o seu Externato, e sozinho lecionava as seguintes matérias: Português, Francês, Inglês, Matemática, Geografia e História. Passaram pelos os bancos desse famoso Educandário de ensino primário e secundário, várias gerações de estudantes, durante 30 anos.
Interresante observar que, segundo o relato de Francisco de Paula Ferreira de Rezende, fica evidenciado que as experiências educacionais na Vila da Campanha, particularmente no ensino primário e segundário não era feito somente através da educação formal, mas de toda cultura que cerca o indivíduo, a auto biografia de Ferreira de Rezende é um ponto de partida para essa compreensão. Fato revelador do elevado nível cultural da Sociedade Campanhense.
O anseio dessa sociedade pelo aprendizado, pelo ensino e pela elevação do nivel cultural da cidade se manifesta quando essa mesma sociedade se mobiliza, através de seus mais ilustres representantes que integram o cenário politico-administrativo não só do Estado como tambem do País, e do Emérito Sacerdote, Padre Natuzzi, coadjuvato pelo ilustre campanhense Monsenhor João de Almeira Ferrão, mais tarde primeiro bispo da recem criada Diocese da Campanha e pelos ilustres deputados, Joaquim Leonel de Rezende Filho. Gabriel Valadão e João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior - iniciaram os entendimentos junto a Mere Angelina que chegara ao Brasil em 1.897, nomeada superiora do Colégio de Sion de Petrópolis, com o objetivo de criar em nossa cidade o Colégio de Sion, administrado pelas as irmãs dessa recente ordem das Irmãs de Sion, fundada na França, para criação de Colégios que ofereciam educação rígida e esmerada para moças. Epoca em que a França ditava o modelo de educção, levou a sociedade Campanhense interessar-se pela vinda da irmãs francesas com intuito de aprimorar o sistema educacional, com oferta do ensino feminino e confessional na cidade e na região Sul Mineira.
Convidada a visitar Campanha Mère Angelina acompanhada de sua secretária, irmã Joaquina, chegam a cidade, tendo a melhor impessão de nossa cidade e, de imediato, decide pela a escolha do local para instalação do colégio. Foi escolhido o imóvel que pertencera ao Senador Evaristo da Veiga, no mesmo local onde se encontra as soberbas instalações do Colégio de Sion.
.O Colégio, que funcionou entre 1904 a 1965, foi responsável por educar na forma de internato e semi-externato as meninas da elite Sul Mineira (Meninas de Sion), como eram conhecidas e também meninas pobres da região (Martinhas). Manteve uma divisão entre estas duas categorias, já que o tratamento era diferenciado. Preparava as primeiras para exercer papéis de liderança familiar, como boas esposas e mães, como também para exercer a profissão de professoras. Já as meninas pobres eram preparadas essencialmente para o trabalho doméstico.
O Colégio instala-se na cidade como uma forma de fortalecer e ampliar o perímetro de influência da Igreja Católica, com uma nova roupagem e atendendo aos anseios do desenvolvimento do capitalismo.
No ano de 1906 a nova casa de Sion inicia as suas atividades em nossa cidade. Foram muitas as alunas da Campanha e da região Sul Mineira que se matricularam na nova instituição. Citamos aqui algumas Campanhenses do período de 1.906 a 1.920: Maria das Dores Paiva de Vilhena, Maria Amélia Veiga de Oliveira, Maria do Rosário Paiva de Vilhena, essas três ingressaram na ordem, tornando-se Irmãs de Sion. Maria da Conceição de Vilhena Lisboa, Hilda de Oliveira Ferreira, Ordália de Oliveira Ferreira, Laura Bressane de Azevedo, Dora Ayres, Edite Souza e Silva, Alvarina Silva, entre outras.
Em 1.906, Charles Noguères, cidadão Francês, junto com o Cônego Joaquim Timóteo Soares, sob a inspiração do Monsenhor João de Almeida Ferrão, fundam o Ginásio Santo Antônio de ensino secundário para rapazes,
Em 21 de abril de 1.908 foi instalado o Grupo Escolar da Campanha, denominado Zoroastro de Oliveira. Ao longo de sua existência o Grupo foi dirigido por importantes personalidades de nossa cidade, como Dr. Júlio Pereira da Veiga, Dona Matilde Mariano, Dr. José Braz Cezarino, Dr. Serafim Maria Paiva de Vilhena, Prof. Júlio Bueno, Dona Maria Conceição de Vilhena Lisboa.
Em 1.909 Dom Ferrão funda o Seminário Nossa Senhora da Dores, tendo como o seu primeiro Reitor, Monsenhor Joaquim Soares, alem de outros que ocuparam tão importante cargo em várias épocas.
Em 1.910 sob sabia orientação desse extraordinário Bispo, Dom João de Almeida Ferrão, foi criado o Ginásio Diocesano São João que, em sua longa e gloriosa vida de mais meio século, formou várias gerações de jovens preparando-os para a vida. Muitos daqueles que passaram por essa instituição se tornaram profissionais capacitados e de renome, nos vários segmentos de suas atividades profissionais
Em 1.929 Restabelecimento da Escola Normal da Campanha, sendo nomeado seu primeiro Diretor o Prof. Jucelino Teodoro de Aguiar Júnior que a instalou e foi em seguida sucedido pelo Prof. Francisco de Melo Franco.
No ano de 1.964 instala-se na cidade o seu segundo Grupo Escolar que recebeu o nome de Dom Inocêncio em homenagem ao segundo Bispo da Campanha.
Por ultimo, assinalamos, como merecido destaque, a criação de ensino superior que tanto se orgulha Campanha. "Radiante e vitoriosa graças ao idealismo do Campanhense de nobre origem o Desembargador e Comendador Manoel Maria Paiva de Vilhena uma bandeira de civismo e de grandeza cultural".
As faculdades Integradas Paiva de Vilhena, são, sem dúvida alguma, a culminância de um processo que, possivelmente, estavisse em gestação no seio da sociedade Campanhense e nasce pelo o idealismo de um obstinado, legítimo representande dessa sociedade, como afirmação de que Campanha foi o centro irradiador de cultura e o viveiro dos melhores troncos que povoaram esse abençoado solo Sul Mineiro. Não à-toa ela foi cognominada "A Athenas do Sul de Minas".

Tarcísio Brandão de Vilhena

Um comentário:

  1. Excelente texto que mostra o contexto educacional que a cidade de Campanha obteve no decorrer do século. Meus avós, tios e primos são dessa cidade maravilhosa que muito me alegra por ser conhecida pelo pioneirismo no ramo educacional.

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