quarta-feira, 25 de julho de 2012

CEL. ZOROASTRO DE OLIVEIRA

                                                                                                                           Tarcísio Brandão de Vilhena    

É uma oportunidade rara, e com um significado muito especial para mim, falar sobre o Cel. Zoroastro de Oliveira. Figura ímpar que fez de sua vida a personificação de virtudes fundamentais, como a prudência, a sobriedade, a coragem e a justiça, a elas acrescentando aquela que seria talvez a sua maior qualidade: a generosidade.

Não o conheci pessoalmente, mas através de meu pai, conheci a nobreza do caráter de um verdadeiro paradigma que influenciou toda uma comunidade. Raro privilégio esse que tenho de poder retratar a memória desse eminente Campanhense, homem público de grande prestígio e com extraordinária visão de futuro que, durante muitos anos, liderou a política da Campanha.
No período de 1º de janeiro de 1908 a 31 de dezembro de 1927, o Cel. Zoroastro foi Agente Executivo. Deixou espontaneamente de concorrer a novas eleições, mas continuou líder absoluto da política Campanhense. Mesmo com o seu falecimento, ocorrido em 1931, sua política continua através de um grupo cidadãos, amigos e correligionários, os chamados "Os Continuadores da Política de Zoroastro de Oliveira". Com o apoio popular e o respaldo dos dirigentes políticos, houve uma extraordinária manifestação pública que reuniu as lideranças políticas e a população em geral, liderada pelo o Dr. Serafim Maria Paiva de Vilhena, seu amigo pessoal, que discursou conclamando a população Campanhense a apoiar e dar continuidade às ideias desse extraordinário líder e eminente cidadão que foi Zoroastro de Oliveira. Esse movimento só termina em 1934, com a promulgação da nova constituição Brasileira, legitimando Getúlio Vargas na presidência da República, e ainda trouxe, profunda modificação política no país, atingindo estados e municípios.
Campanha se notabilizou sempre por atitudes de vanguarda, o que demostra o pioneirismo de sua gente. Em 1898, a administração pública remodela o sistema de distribuição de água potável, através da construção de uma caixa d'água, distante do largo Rosário, contendo uma caixa de filtração, encanamento de tubos de ferro, divididos em vários ramos que passam pelas principais ruas da cidade. Ainda não era um serviço de abastecimento completo. Embora fosse água de boa qualidade posta à disposição da população, não havia rede de distribuição que levasse a água às casas.
Dados do Ministério das Cidades indicam que, ao despontar do século XX, havia em todo país apenas 57 cidades dotadas de serviços públicos de abastecimento de água por rede distribuidora. Entre as capitais dos Estados, duas cidades ainda não possuíam sistema de abastecimento de água: Paraíba do Norte (atual João Pessoa) e Florianópolis. Quanto aos serviços de esgoto, a cidade do Rio de Janeiro foi a primeira capital brasileira, e a quinta do mundo, a dispor de sistema de esgotos sanitários, o que ocorreu em 1864. Somente no ano de 1875 é que Recife e São Paulo constroem a rede de esgoto sanitário.
O Cel. Zoroastro de Oliveira, logo que tomou posse como Presidente da Câmara a 1º de janeiro de 1908 e, consequente, Agente Executivo, começa a por em prática suas ideias progressistas, demonstrando ser um homem que estava à frente de sua época. Com efeito, preocupou-se inicialmente e prioritariamente com saneamento básico da cidade, para oferecer melhor qualidade vida à população Campanhense. Isso fica muito evidente nas prestações de conta que, a cada final de ano, fazia à Câmara Municipal, nas quais, entre outros assuntos tratados, demonstra a sua preocupação com os óbitos decorrente de febres parasitárias ou de febres típicas e paratíficas.
Com aprovação da Câmara, contrata os serviços da Casa H. Smith do Rio de Janeiro, que já lhe havia oferecido para executar gratuitamente o levantamento das plantas para a rede de abastecimento de água potável e redes de esgotos sanitários na cidade, correndo por conta da municipalidade a despesa com passagem dos engenheiros, hospedagem e camaradas necessários para o serviço.
Uma vez aprovada a proposta, a firma H. Smith envia dois engenheiros, que permaneceram na cidade por 20 dias, executando os trabalhos de levantamento e confecção das plantas.O abastecimento d'água é orçado em 99 contos de réis e o da rede de esgoto sanitário em 45 contos de réis.
 Cel. Zoroastro reúne a Câmara em seção extraordinária para expor aos senhores vereadores o que significa para a cidade o saneamento básico, a necessidade de fazê-lo e os benefícios para população advindos desse imperioso projeto. Solicita dos senhores vereadores a aprovação para negociar com o Governo Estadual a contratação de um empréstimo de 150 contos de réis. Três vereadores se posicionaram contra, alegando que se a Câmara não pagasse o Estado iria cobrar dos vereadores. Os seis outros vereadores dão o seu integral apoio ao projeto, enaltecendo-o pela importância e pelo significado dessa notável obra para a cidade da Campanha, e ainda congratularam com o Presidente da Casa pela excelência do projeto, e pelo ineditismo da obra em toda região Sul Mineira. Com 6 votos a favor e 3 contra, o Sr. Presidente declara o projeto aprovado.
Cel. Zoroastro trata diretamente com o Governo de Minas a contratação de um empréstimo para Câmara da Campanha no Valor de 150 contos de réis, a juros de 6% ao ano, com amortização anual de 2% do sobre o valor nominal, exclusivamente para realização dos trabalhos de implantação da rede de água e da rede de esgoto.
Cumpridas pela Câmara Municipal da Campanha todas as exigências burocráticas impostas pelo o Estado, o empréstimo é, finalmente, aprovado. Em 1º de janeiro de 1912, o valor de 150 contos de réis foi posto à disposição da Câmara Municipal. O valor só poderia ser retirado em parte pelo empreiteiro à medida que as obras fossem sendo concluídas.
Cel. Zoroastro tem também a aprovação da Câmara para contratar, com recursos da municipalidade, a rede telefônica com a Cia. Bragantina de São Paulo e a rede elétrica com Jules Duclou e Merce-Bouilloux Lafont.A linha de Bondes foi melhorada para melhor atender os viajantes que se destinam a São Gonçalo e têm concorrido com diminuição dos pesados carros de boi que danificam as estradas e ruas da cidade.
Por indicação do Dr. Lourenço Baeta Neves, designado pelo o Cel. Zoroastro, engenheiro chefe da comissão de melhoramentos municipais, a Câmara adquire parte da Fazenda do Engenho Velho, com 48,5 alqueires de terra de cultura e servidão de água, pela quantia de 14 contos de reis O local dessa fazenda chamado "Cocho" foi escolhido para abrigar a represa de captação de água canalizada do manancial situado na serra do Coroado ou serra das Aguas.
O material metálico para os serviços de captação e da rede de distribuição de água foi todo comprado na Alemanha pela Casa Herm Stoltz & Cia. do Rio de Janeiro. O cimento, manilhas de barro e demais acessórios para rede de esgoto foram adquiridos na Companhia Mecânica Importadora de São Paulo.
Importante observar que a rede de esgoto dispunha de uma particularidade avançada para época: era dotada de 6 tanques fluxíveis com descargas automáticas a cada 2 horas para lavagem da rede de esgoto.
Tendo esgotado todo o valor de 150 contos de réis com as obras, a Câmara aprovou a negociação de um outro empréstimo suplementar no valor de 40 contos de réis.
Simultaneamente à rede de água encanada e ao esgoto sanitário o Cel. Zoroastro construiu o Cemitério Municipal, dotado de um Necrotério todo ele revestido em mármore. O cemitério foi dividido em 10 quadras, sendo as duas primeiras quadras destinadas aos jazigos perpétuos; as quadras de números 3, 5 e 7 às sepulturas rasas para adultos; as de números 4, 6 e 8 destinadas às sepulturas rasas para crianças; a de número 9 para sepultar os não católicos; a de número 10 reservadas a pessoas falecidas por moléstias contagiosas. Todas as sepulturas eram arruadas e alinhadas, com numeração em placas de ferro esmaltado. A inauguração aconteceu em 1º de agosto de 1913, com a presença do Bispo Diocesano que o benzeu.
Construiu o Matadouro Municipal, estabeleceu a coleta diária de lixo, a proibição dos chiqueiros de criação de porcos na cidade, limpeza do ribeirão Santo Antonio, limpeza permanente dos córregos e das vielas. Essas duas importantes construções e as medidas de caráter permanente, sem dúvida alguma, foram providências profiláticas necessárias à complementação do saneamento básico.
O saneamento básico da cidade foi a prioridade do Cel. Zoroastro. Todavia, obras de infraestrutura não estiveram alheias às suas metas de governo; a estrada de automóvel ligando o distrito da Ponte Alta (atual Monsenhor Paulo) ao município foi importante realização para o escoamento da produção agrícola, principalmente o café, antes, levado por um numero enorme de carros de boi, necessitando de várias viagens até a estação da estrada de ferro da Rede Mineira de Viação.
A construção da ponte sobre o rio Palmela, que fez parte do projeto da estrada, encurtou o trajeto, que passou a ter 32 km, possibilitando um caminho mais rápido e seguro.
A ponte de concreto sobre o ribeirão Santo Antônio e um passeio cimentado, da ponte até o Hotel Campanhense, possibilitando o acesso à Estação da Estrada de Ferro; a desapropriação e remodelagem do antigo Teatro São Cândido que passou a chamar Theatro Municipal; construção da ponte sobre o ribeirão Santo Antônio para acesso a Três Cruzes (antigo morro dos Pintos, hoje Bairro Canadá); construção da estrada de automóvel para o Campo Grande e melhoria ao acesso para Águas Virtuosas (hoje Lambari) e tantas outras intervenções de pequeno porte mas necessárias ao desenvolvimento da cidade.
Retomando informação apresentada anteriormente, dados do Ministério da Cidades indicam que, no limiar do século XX, somente 57 cidades, incluindo as capitais brasileiras, tinham sistema público de distribuição de água potável. Quanto ao esgoto sanitário, eram poucas as capitais dos Estados que tinham rede estabelecida.O último Censo Demográfico constatou que, no ano 2000, o Brasil possuía, aproximadamente 9.900.000 domicílios sem acesso ao abastecimento de água por rede geral. No tocante ao esgoto, pouco menos 20 milhões de domicílios não possuíam coleta por rede geral.Essa situação, extraída de dados oficiais, evidencia de modo bem claro o pioneirismo da Campanha e enaltece a visão desse notável cidadão Campanhense que foi Zoroastro de Oliveira, homem público que devotou a sua vida ao engrandecimento de sua terra natal, dotando-a no ano de 1914 de uma estrutura ainda inédita para a maioria das cidades brasileiras.A ação empreendida pelo Cel. Zoroastro ganha ainda mais importância ao se constatar que a atual estrutura do Brasil, em termos de saneamento básico, é prejudicial ao desenvolvimento econômico do país, uma vez que serviços inadequados de saneamento básico – ou a ausência destes – geram uma série de externalidades negativas sobre a saúde pública, o meio ambiente e, consequentemente, ao desenvolvimento econômico. Dessa forma, é de fundamental importância que o acesso a esses serviços seja universalizado.


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