segunda-feira, 9 de julho de 2012

INAUGURAÇÃO DO COMPLEXO DE SAÚDE DA CAMPANHA


                      DISCURSO DE RENATA VILHENA
Por diversas vezes, quando tenho meu perfil profissional descrito em publicações e periódicos, sou definida como sendo extremamente técnica, com foco em números, resultados financeiros e medidas pragmáticas.
Não nego, nem renego, esse traço da minha atuação no dia-a-dia, e considero que ele é fruto da enorme responsabilidade imputada a todos os que trabalham no serviço público: zelar pelo bem comum e buscar sua melhoria contínua, fazendo melhor uso dos recursos disponíveis.
Portanto, ser técnica, sob essa perspectiva, passa a não ser mais uma característica como outra qualquer, mas uma obrigação para todos aqueles que, como eu, são apaixonados e devotados à ação de trabalhar pela sociedade, por sua evolução e transformação coletiva.
Ora, mas se existe paixão e devoção, como pode haver só razão? De fato, não há, e é exatamente por isso que, sempre que sou questionada a respeito do meu tecnicismo, digo que ele existe, é necessário, mas não suficiente, porque a vida pública pressupõe trabalhar com pessoas e para as pessoas, e se fizermos isso guiados apenas pelos números, a conta final, por mais paradoxal que seja, não irá fechar.
Faço essas considerações porque vivo hoje uma ocasião especial, em que vejo refletidas, claramente, essas duas faces de uma mesma moeda: de um lado, os resultados e metas tão associados à Secretária de Planejamento e Gestão; de outro, a emoção e o contentamento que sinto ao trazer os bons frutos da administração responsável adotada pelo Governo de Minas para a cidade que, há mais de duzentos anos, acolhe minha família e tem sua história à dela misturada.Parte dessa história está refletida no Complexo Municipal de Saúde que agora inauguramos, pois é com muita honra que o vejo receber o nome do meu tio, Luiz Paulo Brandão de Vilhena.
A razão e a origem dessa homenagem se encontram em uma importante parceira para que o empreendimento que hoje celebramos pudesse se tornar realidade: a Santa Casa, que revestida com a ação solidária e com a caridade cristã que são parte indissociável de sua história, doou o terreno necessário à construção do complexo.
Campanha, mantendo o pioneirismo que tradicionalmente a caracteriza, foi a quarta cidade de Minas Gerais a possuir uma Santa Casa. Um dos grandes artífices de seu processo de concepção e de construção foi o major Mathias Antonio Moinhos de Vilhena, filho do primeiro antepassado de minha família a fixar residência nessa cidade, ainda no século dezoito
O major Mathias, além de ter capitaneado e custeado boa parte das obras da Santa Casa, foi eleito seu primeiro provedor, em 1841, assim tendo permanecido por quarenta e cinco anos.
Posteriormente ao major Mathias, a função de provedor da Santa Casa de Campanha foi ocupada, ao longo de sua secular história, por mais cinco membros da família de Vilhena. Dentre eles, meu avô, Dr. Serafim Maria Paiva de Vilhena, que dedicou sessenta anos de sua vida a esta Casa, cinquenta deles como provedor.
O último dos Vilhena a ocupar exercer tão nobre mandato foi meu tio, Luiz Paulo Brandão de Vilhena, daí nascendo a homenagem que considero como sendo não apenas a ele, mas a todos da família que dedicaram suas vidas à misericórdia e à humanização da saúde.
A propósito de tais valores e daquele que os vinculou à história da nossa família e de Campanha, disse o jornal “O Despertador”, quando do falecimento do Major Mathias:
“Com seu passamento, Campanha perdeu um de seus mais distintos e honrados cidadãos, que nunca poupou esforços para o engrandecimento material e moral desta terra. Muitas vezes, o major Mathias, guiado pela justiça e pelos doces sentimentos que inspira a religião do Cristo, livrou da miséria famílias inteiras. O nome do major Mathias está gravado com letras indeléveis no coração dos pobres, e este é o seu maior padrão de glórias”.
O major Mathias pode não ter sido uma pessoa pública de direito, mas poucos vivenciaram tão intensamente os valores que buscamos em nossa profissão como ele: foi técnico e pragmático, quando assim foi preciso, durante a construção da Santa Casa e como seu provedor. E foi, acima de tudo, um apaixonado pelas causas coletivas, pelo desejo inesgotável de fazer do mundo em que vivia um lugar melhor, não apenas para si, mas para todos que o habitavam.
De minha parte, pretendo continuar me espelhando no exemplo do major, meu tetravô, e em tantos outros que, felizmente, em épocas passadas e também no tempo presente, continuam a nos permitir acreditar que é possível fazer do serviço público um constante exercício de generosidade, de responsabilidade e de vontade de construir algo sólido e positivo para as gerações atuais e futuras.
Muito obrigada.

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