terça-feira, 11 de setembro de 2012

Portugal e Brasil nos pincéis de Malhoa

 
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -

Os temas históricos sempre interessaram ao pintor. Recebeu o 1.º prêmio no Concurso para Quadro Histórico promovido pela Câmara Municipal de Lisboa com a “A Partida de Vasco da Gama para a Índia”.

E aqui no Rio, numa viagem feita em 1906, a convite do Real Gabinete Português de Leitura, ele realiza duas obras que remetem aos estreitos laços que nos unem a Portugal. Ambas pertencem à pinacoteca daquela biblioteca.

São duas de suas mais belas telas. Primeiro falo da que retrata o Infante D. Henrique, um dos filhos de d. João I de Portugal, fundador da Dinastia de Avis, e de Filipa de Lencastre – os pais da chamada ínclita geração, que bem merece esse título.

Do sonho e da fé desse homem extraordinário saíram as viagens marítimas que desbravaram o mundo...

A tela “representa Dom Henrique sentado no desvão de um cachopo, no Promontório de Sagres. Contempla o espadanar das ondas nos rochedos, como se estivesse a estudar o regime dos ventos e os mistérios do mar. Na irisação formada pelas espumas contra o sol e no recorte das nuvens vê a concretização do seu grande sonho: “o sonho bendito que haveria de dar novos mundos ao mundo” (do site do Real Gabinete Português de Leitura)




Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quiz que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou creou-te portuguez.
Do mar e nós em ti nos deu signal.
Cumpriu-se o Mar, e o Imperio se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

(Mensagem: Mar Portuguez, O Infante – Fernando Pessoa)


A outra tela é sobre a chegada de Cabral ao Brasil. E começo pela descrição de Pero Vaz sobre o primeiro escambo e sobre a tranquila soneca do gigante adormecido:

(...)Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo.

Isto tomávamos nós assim por assim o desejarmos. Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não o queríamos nós entender, porque não lho havíamos de dar. E depois tornou as contas a quem lhas dera.

Então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem maneira de cobrirem suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. O Capitão lhes mandou pôr por baixo das cabeças seus coxins; e o da cabeleira esforçava-se por não a quebrar. E lançaram-lhes um manto por cima; e eles consentiram, quedaram-se e dormiram.





É um quadro que desperta minha curiosidade. Explico: a mim me parece que nosso Cabral não tem o ar feliz de quem atinge seu objetivo depois de tantas provações. Tem um ar meio aborrecido... Seria essa a intenção de Malhoa? Mas vejam bem, isso é a opinião de uma palpiteira...



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