No apogeu das reuniões do Grupo do Leão, Malhoa começa também a se interessar por retratos. O que lhe atraía era tentar capturar o espírito de seu modelo, seu pensamento e em suas telas retratar a alma portuguesa. Veremos alguns desses retratos durante esta semana.
Começamos com o de uma menina, Laura, pintada em 1888. A tela faz parte do
acervo do Museu José Malhoa, erguido em Caldas da Rainha, terra natal do
artista. Muitos anos depois, em 1950, a retratada, já com o nome de casada,
Laura Sauvinet Bandeira, doou seu retrato ao museu e dizem que na ocasião ela
deixou escapar: “Eu era muito bonita!”.
É a obra mais conhecida de Malhoa. E só podemos concordar com Laura – ela era mesmo bonita.
Sua expressão serena, seu olhar tranquilo não mostram, no entanto,
o que registros escritos deixaram como testemunho: a ansiedade da jovem para que
as horas de pose, cansativas e maçantes, terminassem logo... O que é mais do que
natural numa menina de 12 anos.
É um belo retrato: a paleta de cores muito bem escolhida, a pele
luminosa, os lindos cabelos e o porte elegante. Nas mãos as flores que seriam
muitas vezes pintadas por Malhoa, as hortênsias. Mas o que mais chama a atenção
é o jogo de luz e sombra que ele tão bem utilizou, o que era uma marca de suas
telas.
Pouco tempo depois, Malhoa adquire casa de campo em Figueiró dos Vinhos, no
distrito de Leiria. Ali, além de figuras que ama retratar, redescobre os temas
populares que o encantarão ao longo da vida. O Portugal sentimental e bucólico,
o mesmo que Eça retrata em A Cidade e as Serras, quando Jacinto de
Thormes troca Paris pela aldeia serrana.
Um exemplo é o retrato de Clara, a linda aldeã que transmite vitalidade e bom
humor. Foi pintado em 1918.
Segundo registros do museu, Malhoa viu em Clara uma das personagens do
romance As Pupilas do Senhor Reitor, de Julio Dinis.
(detalhe)
São muito diferentes as duas meninas-moças. Laura é mais jovem, mas Clara não
deve ter ainda 20 anos. Vidas díspares, uma citadina, a outra camponesa, mas são
as duas muito representativas das moças portuguesas. É só passar uma temporada
por lá que encontraremos Claras e Lauras, não com as mesmas vestes, nem nas
mesmas posições. Mas os rostos, a expressão, o olhar, a feminilidade, isso que
Malhoa captou tão bem, esses ainda são os mesmos.
E por último o mestre-escola: junto a uma janela aberta sobre uma paisagem
rural e luminosa, ele lê o jornal. Como sempre, é o domínio da luz que
impressiona em Malhoa. A luz natural de um dia de verão se contrapõe à luz
interior que com certeza não permitia que o mestre-escola lesse com vagar o seu
jornal.
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