O que caracteriza a Igreja
Católica é o poder. Desde o período feudal que a Igreja Católica se
despontou como grande proprietária de terras, acúmulo de riquezas e
concentração de enorme poder. O comando dessa estrutura, fortemente
hierarquizada, ao estilo monárquico, concentra-se na mão do Bispo de Roma, o Papa.
Com o passar do tempo, a Igreja Católica foi se vinculando cada vez mais às
coisas temporais afastando-se de sua origem doutrinária e religiosa. Aqueles
que se opunham à Igreja, pela concentração de poderes materiais e não se
submetiam à autoridade do Papa, os chamados hereges, foram combatidos com
extrema violência pela Igreja Católica e, após a organização do Tribunal do
Santo Ofício, no século XII, o julgamento chamava-se Inquisição do Santo
Ofício. Milhares de pessoas foram condenadas e executadas pelos tribunais da
Inquisição, queimadas vivas.
No século XVI houve um enorme
movimento dentro da comunidade Católica, contra a interferência da Igreja
Católica no mundo material, e a criação de dogmas, regras e disciplinas, unicamente
para manter o poder temporal e estendê-lo às pessoas. Desse movimento originou
a Reforma Protestante, preconizada por um frade Agostiniano, Martinho Lutero e
pelo pregador Calvino. Foi um protesto contra os abusos, as atrocidades e os
desmando da Igreja Católica.
David Yallop em seu livro
"Poder e Glória", narra: “a Igreja que João Paulo I herdou havia há
muito se distanciado da Igreja de Cristo. O Vaticano controlava uma riqueza
imensa. Erigida sobre privilégios especiais a riqueza do Vaticano era ocultada
por um sistema de contabilidade antiquado e obscuro, ferozmente negada por seus
porta-vozes. Em 1970 uma estimativa suíça, colocou o capital produtivo do
Vaticano em 13 bilhões de dólares, excluindo-se os vastos bens globais de propriedade
do Banco do Vaticano”.
Ainda segundo o livro, acordos
secretos como o que foi celebrado em 1933 com Hitler no qual a Alemanha nazista
repassava ao Vaticano mensalmente uma soma em dinheiro, o chamado “imposto da
Igreja”, demonstra o ambiente político da cúpula da Igreja. Evidente que foi um
acordo bilateral. Hitler, um ateu confesso, não seria capaz de tamanha
generosidade.
João Paulo I cujo pontificado foi
de apenas 33 dias, muitos sustentam que ele foi assassinado. É fato que ele
tocou numa ferida perigosa: tentou por fim a cobiça da Igreja católica pelo
poder temporal, e aos escândalos envolvendo o Banco do Vaticano e o Bispo Paul
Marcinkus.
Ele protagonizou o maior
escândalo financeiro da história do Vaticano: a quebra do Banco Ambrosiano de
Milão, ocorrida em agosto de 1982, quando o banco foi declarado insolvente pelo
governo italiano, após ter sido descoberto um “rombo” de cerca de US$ 1,5
bilhão. O Vaticano possuía 16% do capital do Ambrosiano.
As investigações da falência do
banco trouxeram à tona entre outras operações nebulosas, pagamentos obscuros à
loja maçônica P-2, aparentemente, desvio de fundos para uso particular e
ligações com a Máfia. Foram acusados formalmente Marcinkus e dois
administradores, Luigi Mennini e Pellegrino Strobel.
O Vaticano deu asilo ao arcebispo
Marcinkus e seus dois colaboradores, para impedir sua prisão.
O Tribunal Supremo da Itália
defendeu a impossibilidade de processar o arcebispo e os dois funcionários, em
virtude do Pacto Lateranense, (Tratado de Latrão celebrado em 1929, que criou o
Estado do Vaticano) que em seu artigo 11 prevê que “os entes centrais da Igreja
Católica estão isentos de qualquer ingerência por parte do Estado italiano”.
O Vaticano gastou cerca de US$
100 milhões, em 1983, para ressarcir os clientes do Ambrosiano, gesto que foi
interpretado pela imprensa italiana como uma confissão de responsabilidade na
quebra do banco. Mais tarde, o Vaticano criou mecanismos de controle para
impedir casos como esse.
Dois meses antes da declaração de
quebra do banco, em 16 de junho de 1982 o corpo do presidente do Ambrosiano,
Roberto Calvi, que havia fugido para Inglaterra, tinha sido encontrado
enforcado sob uma ponte de Londres, no que, aparentemente, foi um suicídio.
Entretanto, em 1998, o corpo foi exumado para perícia e, em 2002, “uma equipe
de médicos forenses encabeçados pelo professor alemão Bernd Brinckman disse que
Calvi foi assassinado em um terreno baldio perto da ponte, onde foi pendurado
para simular um suicídio”.
Em 1984, Marcinkus foi nomeado
como um possível cúmplice no suposto assassinato do Papa João Paulo I pelo
jornalista investigativo David Yallop em seu livro Em Nome de Deus. Yallop
fez acusações a respeito de um número de suspeitos associados às relações
de Marcinkus com negócios escusos e envolvimento com membros da máfia
e o Banco do Vaticano, afirmando ainda que Marcinkus pode enfrentar
exposição penal, ele deve ser removido de sua posição no banco.
De fato, Marcinkus, foi demitido
e enviado para a Arquidiocese de Chicago em 1990 antes de se retirar para
o Arizona, onde viveu como um pároco assistente até a sua morte. Assim, aos 84
anos Paul Marcinkus foi para seu túmulo com seus segredos intactos.
Provavelmente, nunca serão revelados.
O Papa ao renunciar abre caminho
para uma reforma radical na Igreja católica. É sintomático quando ele diz: “Quando
já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve”. Com a sua renúncia caem aqueles que
tornaram o Vaticano ingovernável: a voracidade da Cúria Romana. A renúncia do
papa sinaliza um futuro nada promissor para uma estrutura fortemente construída,
mas que vem se deteriorando ao longo do tempo, ensejando a sua decomposição por
ela mesmo, em decorrência de uma rede de intrigas, conspirações e disputas
pelo poder.
O Sacro Colégio de Cardeais
quando reunido para escolher o novo Papa, tanto o Colégio Cardinalício como o
novo Papa, terão pela frente vários desafios e muito que decidir. O momento é
propício para estabelecer os novos rumos da Igreja: manter esta Igreja
centralizada, controlada pela Cúria Romana, corrompida, adulterada e
ostensivamente apegada às coisas temporais; ou promover o retorno às origens
doutrinárias e religiosas: a Igreja de Cristo.
O celibato sacerdotal é outra
questão que prioriza decisão firme, sem protelação. A comunidade católica e a
sociedade em geral, não toleram mais meias medidas protagonizadas pelos acordos
milionários para acobertar padres pedófilos ou ouras perversões sexuais, como o
homossexualismo. É sabido que todos esses desvios e perversões decorrem da
proibição imposta ao exercício do sacerdócio pelo celibato.
A mensagem de Bento XVI, direta e
sem concessões, tem repercutido com força surpreendente. Não seria este o
momento de reflexão? Nada justifica no mundo atual, a existência dessa
estrutura, centralizada, fortemente hierarquizada e corrompida pela disputa do
poder. Essa nefasta hierarquia em nada favorece o exercício da fé cristã e
ainda causa indignação aos católicos pelos desmandos que se sucedem.
O Jornal Italiano, La
República na edição de 21/02, denunciou que Bento XVI antes
de abandonar o trono de São Pedro, deixando-o vacante até o fim do conclave, o
Papa Bento XVI pretende se reunir com os 116 cardeais que elegerão seu sucessor
para expor as conclusões do inquérito sobre o escândalo Vatileaks. O
documento de 300 páginas - dividido em dois capítulos e escrito pelos cardeais
Julian Herranz, Jozef Tomko e Salvatore De Giorgi - traria revelações
bombásticas sobre a cúria romana, que incluiriam uma rede de agenciamento de
encontros homossexuais, além da existência de grupos de pressão especializados
em montar e desmontar carreiras dentro da Santa Sé e em desviar recursos
multimilionários do Banco do Vaticano para usufruto próprio.
O Arcebispo emérito de Aveiro,
Portugal, Dom Antonio Marcelino que já presidiu à Conferência Episcopal
Portuguesa, não tem dúvidas: "apesar de ter conseguido algumas reformas
significativas, o papa sentiu-se impotente ante os conflitos, manobras e até
traições, que se foram levantando a seus olhos, a ponto de tolherem o seu
caminho". Ainda denuncia um centralismo controlador da Cúria Romana, que
até condiciona o trabalho dos bispos nos diversos países; As conferências
episcopais nunca foram queridas nem amadas pelos poderosos da Cúria, afirma o
prelado.
Hoje, o que existe, são duas
Igrejas: a fundada Jesus Cristo, e uma outra controlada pela Cúria Romana, corrompida,
adulterada e ostensivamente apegada às coisas temporais.
O novo Papa deve retomar o papel de líder espiritual e renunciar o de chefe de Estado. O ambiente político contamina a Igreja.
O novo Papa deve retomar o papel de líder espiritual e renunciar o de chefe de Estado. O ambiente político contamina a Igreja.
Bento XVI desnuda a
inconsistência das esperanças materialistas e faz uma crítica serena, mas
profunda, dos caminhos da Igreja.
Ainda Cardeal Raitzinger, falando
durante uma série de meditações na Via Sacra de sexta-feira santa dizia:
"quanta sujeira há na igreja, e mesmo entre aqueles que, no sacerdócio,
deveriam pertencer inteiramente a Cristo”. “Muita, Santo Padre, muita mesmo!
Deus ajude a Igreja Católica Apostólica Romana”.
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