domingo, 24 de fevereiro de 2013

OS REPUBLICANOS HISTÓRICOS CAMPANHENSES



Tarcísio Brandão de Vilhena

Na História do Brasil, dá-se o nome de republicanas históricos às personagens que tinham aderido à causa republicana, desde antes da proclamação da República. Entre estes, incluem-se os signatários do Manifesto Republicano de 1870, os abolicionistas que também faziam campanha pela república e os demais partidários e membros dos Clubes Republicanos, nas diversas províncias do Império antes do golpe de 15 de novembro de 1889, que proclamou a República.

Em Minas, não houve campanha expressiva, antes do manifesto de 1870, o que pode ser justificado pelo estado de decadência urbana ocorrida na Província desde a devassa da Inconfidência Mineira, cuja repressão visou também inibir as ideias republicanas, obrigando os mineiros a se refugiarem no silêncio. A rebelião liberal de 1842, embora liderada por um republicano convicto como Teófilo Otoni, não oportunizou a tendência republicana. O presidente rebelado da Província, Barão de Cocais, não permitiu a inserção de tal tendência no referido movimento. Mesmo que a punição aos revoltosos de 1842 tenha sido suave e condescendente, ela refletiu sobre Minas, de forma duradoura, os prejuízos morais da derrota. O partido liberal não conseguia se impor junto ao eleitorado, sempre vencido e encurralado pelos conservadores.

Ainda assim, antes do manifesto de 1870, alguns centros urbanos mineiros se despontaram com relativo progresso, a exemplo de Juiz de Fora, Diamantina e Campanha, e tiveram oportunidade de expressar ideias republicanas por oposição ao regime monárquico brasileiro.

De fato, em 1870, republicanos Campanhenses, liderados pelo Cel. Marthiniano dos Reis Brandão já defendiam os princípios e os ideais republicanos e federativos, não só em Campanha, mas em toda a região Sul Mineira. Naquele ano, ainda sob a liderança de Marthiniano, surge em Campanha o Clube Republicano, tendo a sua frente ilustres Campanhenses cultos, idealistas e independentes, dentre os quais se destacavam o médico Dr. Francisco Honório Ferreira Brandão, filho do Cel. Martiniano, o jornalista Manoel de Oliveira Andrade, o cidadão Domingos Honório Lopes de Araújo, o Cel. Saturnino de Oliveira, o Dr. Bráulio Lion, o Cel. Marcos Coelho Neto, o Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Jr., o Prof. Jonas Olinto, o Dr. José Braz Cezarino, o parlamentar Alexandre Stóckler Pinto de Menezes, o Dr. Joaquim Leonel de Rezende Alvim, o Dr. Antonio Xavier Lisboa, Pe. Francisco de Paula de Araújo Lobato, Francisco Bressane de Azevedo, o Dr. Eustáquio Garção Stockler e outros.

As reuniões do Clube Republicano eram realizadas na residência do Cel. Marthinano. Esta residência ele a adquiriu na condição de genro do Comendador Paula Ferreira, o proprietário. Marthiniano era casado com uma de suas filhas, Anna Alexandrina Ferreira Brandão, e adquiriu as partes dos demais herdeiros. Esta magnifica edificação abrigou a Escola Normal, a Prefeitura e, por último, a Faculdades Integradas Paiva de Vilhena. Lamentavelmente, foi consumida por incêndio.

Em 1880, regressa à Campanha, graduado em Farmácia, o Sr. Zoroastro de Oliveira, filho de Saturnino de Oliveira, que passa integrar o Clube Republicano, sendo escolhido, por seus pares, para ocupar o cargo de secretário do Clube. Neste mesmo ano, o clube se reúne para escolher o nome de um dos integrantes para concorrer às eleições senatorias da Província, a serem realizadas em 27 de maio. A escolha recai no Dr. Francisco Honório Ferreira Brandão.

Transcorrida a eleição, foram eleitos: o médico Campanhense Dr. Francisco Honório Ferreira Brandão, pela região Sul Mineira; Dr. João Nogueira Penido, médico de Juiz de Fora; região da Mata Mineira, Dr. Joaquim Felício dos Santos, advogado em Diamantina, pela região Norte.

Um ano antes da proclamação da República, no dia 4 de junto de 1888, cria-se em Minas Gerais o Partido Republicano Mineiro - o PRM, com objetivo de representar as ideias republicanas aos oligárquicos da elite agrária do Estado de Minas Gerais. Neste mesmo ano, funda-se na Campanha, sede administrativa da região Sul Mineira, o diretório regional do Partido Republicano Mineiro, presidido pelo o médico Dr. Francisco Honório Ferreira Brandão.

A noticia da Proclamação da República pelo o Marechal Deodoro da Fonseca foi dada aos republicanos campanheses pelo parlamentar Dr. Stockler Pindo de Menezes, campanhense residente no Rio de Janeiro. No dia 17 de novembro de 1889, mais de cem eleitores republicanos reunidos na residência do Coronel Marthiniano, todos filiados ao PRM, sob a presidência do Dr. Francisco Honório Ferreira Brandão, decidiram lavrar uma Ata, na qual se declaravam solidários à proclamação da república e ao governo provisório, instalado após a proclamação. Excluindo Ouro Preto, capital da Província, Campanha foi a primeira cidade mineira a manifestar seu júbilo e seu decidido apoio à República Brasileira.

Desgostoso com o baixo nível e com a vileza dos adversários políticos contra a sua pessoa, Dr. Brandão deixa Campanha e muda-se para o Rio. Nunca mais voltou à cidade. Assume a presidência do partido o Cel. Saturnino de Oliveira. Após o seu falecimento, seu filho, Cel. Zoroastro de Oliveira, passa presidir o partido. Em 1927, Zoroastro abandona a vida pública e entrega a direção do partido para seu irmão, o médico Dr. Jefferson de Oliveira. Em 1929, Jefferson é eleito deputado federal. O vereador Dr. Serafim Maria Paiva de Vilhena passa ocupar a presidência da Câmara e, por consequência, torna-se o Agente Executivo do município e presidente do partido. Com a revolução de 1930, os partidos políticos são todos dissolvidos, dando inicio à nova república, liderada pela Frente Liberal.

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